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Não, não vale tudo em política

(Artigo de opinião escrito para o Jornal de Notícias)

Confesso que não gostava de escrever sobre este tema, mas a forma despudorada como a Direita, em particular o PSD, tem tentado explorar politicamente, seja através dos seus protagonistas políticos quer através da plêiade de comentadores ao seu serviço, a tragédia humana de Pedrógão Grande atingiu o inaceitável. Mais do que isso, é uma verdadeira indignidade e uma ignomínia. Repito: não, não vale tudo em política!

A insinuação subjacente à barragem mediática tentada pela Direita foi a seguinte: o Governo está a esconder o verdadeiro número de vítimas da tragédia de Pedrógão. A mesma Direita que há umas semanas clamava contra o Governo por deixar que as entidades públicas divulgassem livremente as suas posições sobre o que aconteceu (como que apelando à censura…) é a mesma que agora acusa o Governo de sonegar os dados, como se tal fosse possível num Mundo mediatizado como nunca. Esta insinuação parte aliás, ela própria, de uma outra indignidade: achar que a tragédia humana vivida pelas famílias atingidas seria menos se houvesse mais ou menos mortos e a vida humana – toda a vida humana – não fosse um valor absoluto.

Mas mais do que atacar o Governo, o que esta insinuação semeia, na melhor tradição do populismo que o PSD agora patrocina e tanto acarinha (veja-se o episódio com o seu candidato a Loures… e tudo o que se tem passado nas últimas semanas), é tentar semear a desconfiança dos cidadãos nas instituições do Estado democrático, levando tudo o que aparecer à frente: as forças de segurança, a Proteção Civil, as Forças Armadas, a Justiça. Não há que recear as palavras: esta é uma atitude indigna de um partido que se quer constituir como alternativa de poder e que trai as melhores tradições e a história do PPD/PSD.

Achar que alguém – nos tempos modernos – pode esconder o verdadeiro número de vítimas da tragédia de Pedrógão diz bem da mentalidade reinante nesta Direita, que parece tomada de assalto pelo trumpismo. As instituições estão a fazer o seu trabalho e há uma comissão independente, votada na Assembleia da República, a averiguar tudo o que se terá passado em Pedrógão.

Este não é o tempo para semear a dúvida e a desconfiança. Este é o tempo de deixar trabalhar as entidades competentes. Este é o tempo de reafirmar a confiança nas instituições do Estado de direito democrático. Para que todas as perguntas tenham resposta e para que, apesar da irresponsabilidade de alguns, não fiquem sombras de dúvidas.

Mas, este é o tempo do PSD e do CDS, depois da miserável encenação política desta semana, pedirem desculpa aos portugueses. Não, não vale tudo em política.