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Opinião: Revisão em alta

A revisão em alta pelo INE dos números do crescimento económico no segundo trimestre foi acompanhada de um enorme esforço da Direita e dos seus múltiplos comentadores para transformar uma notícia objetivamente boa numa notícia terrível. Mas os factos são o que são: o INE reviu o crescimento em alta.

Ninguém nega que, por razões que se prendem essencialmente com a conjuntura externa, o crescimento da economia – de 0,3% face ao trimestre anterior e de 0,9% face ao trimestre homólogo – está aquém das expectativas e, decerto, ficará abaixo do previsto no cenário base do Orçamento. Mas isso não autoriza o discurso tremendista, nem justifica o tom arrogante de quem fez bastante pior quando assumiu responsabilidades governativas.

Aqueles que desdenham do crescimento em cadeia de 0,2% e 0,3% registado no primeiro e no segundo trimestres deste ano, deveriam fazer um pequeno esforço de memória para recordar qual foi o crescimento em cadeia registado nos dois últimos trimestres do Governo PSD/CDS. Eu ajudo: 0,1 e 0,2%! Lamento, pois, ter de informar: a economia, embora crescendo pouco, está a crescer agora a melhor ritmo do que estava com a governação da Direita!

Mais: enquanto agora a economia portuguesa está finalmente a crescer ao mesmo ritmo da Zona Euro (que é igualmente de 0,3%), o crescimento que estava a ser obtido pelo Governo anterior no segundo semestre de 2015 ficou sempre abaixo do crescimento médio da Zona Euro (0,1 e 02%, enquanto a Zona Euro crescia 0,3 e 04%, respetivamente).

Os profissionais do tremendismo dizem também que um crescimento mais baixo vai comprometer a redução do défice. Mas também aqui os factos resistem à teoria da catástrofe, como o próprio presidente da República ainda esta semana recordou ao comentar a execução orçamental. Isso, aliás, em nada deveria surpreender os observadores mais atentos. De facto, o próprio Relatório do Orçamento para 2016 inclui uma análise de sensibilidade (Quadro I.3.9., na página 26) que estima o valor do défice no cenário de um crescimento do PIB de apenas 0,8%, ou seja, 1 p.p.. abaixo dos 1,8% previstos no cenário base. E querem saber qual é o défice previsto nesse cenário alternativo? Precisamente 2,5%! Ou seja: mesmo num cenário de crescimento mais baixo do que o inicialmente previsto, o Orçamento para 2016 tem condições para cumprir a meta do défice acordada com Bruxelas. Dito de outra maneira, até o défice será bastante inferior do que o obtido pela governação de austeridade da Direita.

O tremendismo tem um problema: dá-se mal com os factos.

(in Jornal de Notícias)