É da maior importância e gravidade a forma como o FMI se avaliou a si próprio e à política económica posta em prática em Portugal nos últimos anos.
O que o FMI nos vem dizer hoje, sobre as suas próprias orientações, é que no essencial tudo falhou: as previsões económicas foram otimistas, o impacto da austeridade foi subestimado, a redução do défice e da dívida eram impossíveis e as políticas não trariam o crescimento.
Segundo o FMI, o erro começou no próprio diagnóstico (que estava mais na falta de poupança interna do que na competitividade salarial) e prosseguiu na estratégia de ajustamento.
O FMI termina de forma arrasadora: as sucessivas insistências na estratégia quando as metas teimavam em falhar conduziram a uma queda da economia e do emprego que foi infligida e era evitável. E, acrescentamos nós, sem que nenhum dos problemas iniciais fosse resolvido. Antes pelo contrário.
É de grande importância que o FMI venha hoje fazer esta autocrítica. Mas é também muito revelador e preocupante que Pedro Passos Coelho insista no discurso de que a sua governação estava na direção certa.
No Pontal, Passos Coelho gastou mais de 40 minutos saltando entre o fim do atual Governo (atual solução governativa “está esgotada”) e o iminente colapso do País. No discurso, não se encontra uma proposta, solução ou ideia de futuro, por uma razão simples. Porque as ideias de Passos são, no essencial, aquelas que hoje o FMI veio reconhecer estarem erradas.
Ora, um partido com o peso e as aspirações do PSD tem de transmitir algo mais do que anunciar o iminente falhanço do País ou repetir uma estratégia que o próprio FMI vem reconhecer não resolver qualquer dos problemas com que nos debatemos.
Passos Coelho mostra um PSD refém de si próprio e do seu passado, do qual tarda em ter um distanciamento crítico.
Assim sendo, limita-se a tentar dramatizar artificialmente a situação de um país que, com consciência das grandes dificuldades que enfrenta, começa a recuperar a confiança em si próprio.
Até quando?
Uma ponte com vista para a cidade