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Fundos Europeus: Entre o Mito e a Realidade

Fundos Europeus: Entre o Mito e a Realidade

No arranque do debate público sobre o novo quadro comunitário de apoio à coesão social, económica e territorial, o Governo assimilou o discurso das instituições europeias e apresentou-o ao País como sendo conquista sua.

Opinião de:

Fundos Europeus: Entre o Mito e a Realidade

Esse discurso apresentava três elementos essenciais: primeiro, a ideia de que o «Portugal 2020» teria como compromisso essencial aplicar os recursos nos territórios da convergência, ao contrário, como de modo oportunista referiu, do que tinha vindo a ser feito pelos governos do Partido Socialista. Em segundo lugar, afirmou que os municípios, as Comunidades Intermunicipais (CIM) e as Áreas Metropolitanas (AM) participariam mais ativamente na definição das prioridades de investimento e na aplicação dos fundos, procurando garantir esse objetivo por intermédio das estratégias de Desenvolvimento Local de Base Comunitária  (DLBC), das Intervenções Territoriais Integradas (ITI) e das Acções Integradas de Desenvolvimento Urbano (AIDU). Em terceiro lugar, garantiu, como compromisso seu, a aplicação dos fundos numa perspetiva “multifundos”. Ora, contrariamente ao que o Governo quis fazer crer, todas estas orientações, que são positivas, resultam de uma abordagem europeia e não nacional. Poderíamos apelidar esta estratégia como “ninho do cuco”.

Contudo, o mais grave não está no facto de o governo se querer apropriar das orientações comunitárias procurando dar como seu o produto intelectual e cultural de outros países, mais ativos na construção das soluções de desenvolvimento europeias. O mais grave reside no facto de o Governo ter falhado em todos estes compromissos que assumiu com os poderes locais e regionais. Primeiro, prometeu a descentralização e apenas temos conhecido a centralização na conceção e determinação do modo como serão aplicados os fundos europeus de convergência. Segundo, as comunidades intermunicipais e as áreas metropolitanas têm sido totalmente desrespeitadas, tanto no modo como participaram na construção das soluções de desenvolvimento, como na participação dos valores de investimento territorial. Terceiro, com os recursos disponíves para as autarquias e as suas instituições representativas, não vejo como poderemos garantir a convergência social e económica de territórios e regiões com os níveis médios de desenvolvimento europeu.

É caso para dizer que “nem com o ninho feito” o governo consegue dar provas de competência para aproveitar os fundos comunitários destinados ao desenvolvimento social e territorial e garantir a valorização dos recursos nacionais e colocá-los ao serviço da criação de emprego e de oportunidades de futuro.