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FALAR SEM PENSAR

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Opinião de:

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Três dias depois da tragédia de Pedrógão Grande, escrevi, neste jornal, na minha coluna habitual, que foi provocada por condições climatéricas bastante adversas e que o homem nunca controla o que à natureza compete. Sabe-se, agora, confirmando o que disse, que um fenómeno meteorológico downburst atingiu o incêndio e tornou-o avassalador, como titula o Público, na edição de domingo. 

O fenómeno meteorológico em apreço consiste numa corrente de ar gerada por nuvens e que chega até ao chão, onde em seguida se espalha em todas as direções e provoca ventos fortes. O mesmo jornal adianta que é muito rara a ocorrência simultânea de um downburst e um incêndio. A minha afirmação de que a tragédia foi provocada por condições climatéricas bastante adversas baseou-se no facto de qualquer incêndio florestal, em circunstâncias normais, e mesmo que muito pavoroso, nunca causar a morte de 64 pessoas. É preciso que algo mais extraordinário aconteça. No caso concreto, a conjugação com um downburst.

Em Portugal, diz-se muita coisa, sem pensar bem no que se vai dizer. Alguns políticos falam mesmo com grande leviandade. Costumo até dizer que falam de mais e fazem de menos. O aproveitamento político que a oposição tenta fazer de Pedrógão Grande é altamente condenável. A morte de 64 pessoas e a dor dos familiares e amigos deveriam merecer maior respeito ao PSD e CDS. Procurar extrair dividendos políticos de uma catástrofe, que entristeceu e enlutou todo o país, é, no mínimo, chocante. A deputada Teresa Morais, do PSD, tem de moderar os seus ímpetos no Parlamento. A forma de atuar não prestigia a instituição parlamentar. 

A opinião que perfilho, de que se diz muita coisa no nosso país, sem pensar bem no que se vai dizer, aplica-se, também ao roubo de material de guerra em Tancos. Sem deixar de o considerar grave e preocupante, penso, no entanto, que é do foro castrense e é, a este nível, que tem de se dirimir. A exoneração dos cinco comandantes ligados aos paióis parece adequada.

Em finais de 2010, houve outro roubo semelhante no Carregado (Alenquer), embora menos grave, e, mais recentemente, em países da NATO, ocorreram furtos da mesma índole. Em nenhum dos casos, se verificou o apuramento de responsabilidades políticas, com demissões de ministros da Defesa. Não faria sentido, agora, fazer rolar a cabeça de Azeredo Lopes. Até porque, quem manda no Governo é o primeiro-ministro e nunca a oposição! O mesmo é dizer dos incêndios: só agora, sabendo-se que nos flagelam há décadas, é que o(a) governante da tutela estaria em causa, para mais numa tragédia causada, soube-se há dias, por um fenómeno meteorológico bastante hostil, a que já aludimos, e que o homem nunca controla? A tese do El Mundo, adotada por comentadores da nossa praça, segundo a qual a carreira de Costa pode acabar, devido a Pedrógão Grande, toca as raias do absurdo e tem contornos anedóticos. Costa, dez anos em São Bento e outros dez em Belém!