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O Estado a que isto chegou – Opinião

O Estado a que isto chegou – Opinião

No passado fim de semana, uma portuguesa dos seus cinquenta anos, chamemos-lhe M., abordou-me no supermercado para me dizer que se sentia “aterrorizada” com a simples hipótese de a atual maioria de direita ganhar as eleições. “Só de pensar nisso, fico doente”, prosseguiu, desfiando o rol das malfeitorias feitas pelo governo nos últimos quatro anos.

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“Está tudo tão mal!” – exclama M. e exemplifica com a vida concreta de familiares, amigos e vizinhos. Todas as famílias que conhece se confrontam com o drama do desemprego e da emigração, para já não falar dos casos extremos de pessoas que perderam a casa e das crianças “que vão em jejum para a escola”. Relembra a quantidade de jovens licenciados à procura do primeiro emprego e dos que só arranjam “um biscate” mal remunerado, precário e que nada tem a ver com as suas habilitações académicas. “Como é possível dizerem que o desemprego baixou!”, indigna-se. “Só se for para os amigos e conhecidos deles, esses não passam dificuldades”.

Perante a dramática situação do país, M. não compreende a resignação dos portugueses e chama a minha atenção para o que diz ser a “atitude dos gregos”. Esses, diz ela, não protestam só nas redes sociais, “batem o pé ao governo e à Europa”. Aqui, no nosso país, o governo “tem a lata” de dizer que os sacrifícios valeram a pena, que estamos melhor, e os portugueses ficam calados, conformados, cheios de medo, sem coragem de lhes “atirar à cara” o que pensam, sentem e sofrem com as políticas de austeridade “que deram cabo do país”.

A destruição dos serviços públicos, a privatização de “praticamente todo o sector público”, o desinvestimento na Educação e no Serviço Nacional de Saúde, foram outros temas que M. não esqueceu. “Sabe que há muitas pessoas que faltam às consultas médicas porque não têm dinheiro para os transportes e para as taxas moderadoras?” – pergunta. “Os velhotes não aviam as receitas na farmácia porque têm de ajudar os filhos desempregados” e confidencia-me que uma vizinha lhe dissera que havia falta de dinheiro para os hospitais públicos, mas não para os privados. “Não têm vergonha, mentem descaradamente, são autoritários e arrogantes, sem um pingo de sensibilidade social e controlam tudo”- remata.

A Assembleia da República debate hoje o estado da Nação. Só o governo e a maioria de direita recusam olhar para o estado a que conduziram o país e assumirem as suas responsabilidades. Porque o governo “quis ir além da troica” e aplicar o seu programa de empobrecimento generalizado, em quatro anos, Portugal regrediu décadas em sectores fundamentais. Portugal andou para trás e não para a frente.

Os títulos dos jornais das últimas 24h ilustram bem o estado a que isto chegou: Défice da balança comercial aumentou em 2014 (Lusa); Despesas de saúde privada em Portugal e Grécia com maior crescimento da OCDE (Observador); Malparado das famílias e das empresas volta a subir em Maio (Lusa); Crédito malparado equivale a quase um quarto do empréstimo da troika (Publico); Dividas à segurança social disparam 60% durante a crise (Negócios); Um quinto dos trabalhadores em Portugal são precários, mais 50% do que em 1986 (Lusa); Portugal tem a taxa de população emigrada mais alta da UE ( Lusa); Nível de vida das famílias portuguesas regrediu em 2013 para níveis de 1990 (Lusa).

Não tenhamos dúvidas: O país precisa de mudar de governo. Os portugueses querem uma alternativa de confiança.