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É um descaramento a direita apresentar-se como defensora do Estado Social

É um descaramento a direita apresentar-se como defensora do Estado Social

A direita não esgotou o seu “arsenal de maldades”, alerta António Costa, referindo que a coligação tem “mais austeridade para apresentar” e prepara agora a “privatização” dos serviços públicos. Por isso, o líder do PS considera “um descaramento” que PSD e CDS se apresentem como paladinos do Estado Social.

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Em entrevista ao semanário “ Sol”, o Secretário-geral do PS considera que “depois do que este Governo fez aos idosos (cortando no complemento solidário), ao corte no rendimento social de inserção, ao aumento das taxas moderadoras, nas alterações à legislação laboral, ao programa de privatizações, ao ataque que se perspetiva na Segurança Social, na Saúde e na Educação, é uma falta de vergonha levada ao exagero e muito descaramento virem apresentar-se como paladinos do Estado Social”.

Acrescentando que “é um descaramento digno do ‘House of Cards’, mas indigno numa política a sério. Descredibiliza a política”.

Questionado sobre o facto de a direita já ter privatizado tudo o que havia para privatizar, António Costa alertou que essa é uma leitura “muito otimista”, já que, lembrou, “depois de a direita ter privatizado tudo o que havia para privatizar no sector empresarial do Estado, prepara agora uma segunda cruzada: a privatização dos serviços públicos. Um assalto explícito à Segurança Social, mas também implícito quer ao Serviço Nacional de Saúde, quer à escola pública”.

Direita não esgotou arsenal de maldades

Para o líder do PS, “a ideia de que a fúria privatizadora do Governo está esgotada não é verdade, a direita não esgotou o seu arsenal de maldades. Tem mais austeridade para apresentar”.

António Costa acredita ainda que Passos Coelho queira privatizar a Caixa Geral de Depósitos. “A única explicação racional para o inqualificável ataque do primeiro-ministro à Caixa é desvalorizá-la para a seguir privatizar. Foi assim que fizeram com a TAP, foi assim que fizeram com a Cimpor, foi aquilo que fizeram com tudo o que venderam mal vendido”.

Na entrevista, António Costa refere que os eleitores nas legislativas de 4 de outubro vão ser essencialmente confrontados com duas hipóteses: “Continuar com a atual política ou mudar. As pessoas irão escolher. Parece-me que as sondagens mostram que a coligação esgotou a sua margem de crescimento à direita, o mesmo não acontece connosco à esquerda”.

Acrescentando que “se há coisa clara para a maioria do eleitorado é que as pessoas querem uma mudança política e não existe mudança política com os protagonistas da atual política”.

Bloco Central? Não, obrigado

Quanto à possibilidade de haver um Bloco Central, o líder do PS foi taxativo: “Só em condições absolutamente extremas”. Por exemplo, “uma invasão de marcianos”, ironizou.

Na entrevista, António Costa afirma que já tem “uma estrutura de governo na cabeça”, adiantando que “precisamos de estabilizar a orgânica da administração pública portuguesa, a máquina do Estado deve estar arrumada e serenar. Basta de criar ou fundir direções-gerais. Andamos desde o primeiro PRACE, que ainda foi conduzido por mim, em 2005, a fazer e desfazer. Devemos também estabilizar a estrutura fundamental do governo”.

Ou seja, explicou, “ter ministros sem ministérios. Ministros com missões específicas”, porque, sublinhou, “na atual fase do processo europeu, em que o debate sobre a construção da Europa é tão intensa, acho importante ter alguém com um estatuto superior a secretário de Estado. Noutros casos, há funções que são transversais que têm de romper com a organização normal dos diferentes ministérios, por exemplo a modernização administrativa. Não precisamos de ter um ministério da Modernização Administrativa, mas podemos ter um ministro que se ocupe do assunto. Um ministro no centro do governo que seja responsável transversalmente por um novo processo de desburocratização”.

Liberdade e igualdade são indissociáveis

Na entrevista António Costa foi ainda confrontado com uma questão clássica que divide a esquerda, nomeadamente socialistas e comunistas desde há mais de um século, e que se prende com a escolha que faria em primeiro lugar entre liberdade e igualdade.

“Não tenho nenhuma dúvida: escolheria a liberdade. Com a liberdade pode construir-se a igualdade, mas sem liberdade nada feito”, afirmou o líder do PS.