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Distração e falta de dinheiro

Distração e falta de dinheiro

O primeiro- ministro atribui os seus incumprimentos fiscais a “distração e falta de dinheiro”. Desculpas que a esmagadora maioria dos contribuintes não pode invocar. Se este modelo fosse adotado como sinal de respeito pelo primeiro-ministro, um país constituído por distraídos e tesos nunca levantaria voo. Estaria permanentemente a comprimidos de <em>Ritalina</em>, como acontece às crianças incapazes de fixarem a atenção.

Opinião de:

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A gravidade dos incumprimentos fiscais não parece elevada. Muitos de nós fomos já sancionados por coimas. Durante muitos anos, a mais popular consistia em dez euros por atraso na apresentação do IRS. Quando a coima passou a 50 euros, o que ocorreu quase em simultâneo com a entrega da declaração por via eletrónica, entrámos nos eixos. O que não consta é que algum contribuinte se tenha apresentado às Finanças declarando: desculpe o meu atraso, mas estava distraído e também não tinha dinheiro!

Na verdade, não parece grave que Passos Coelho tenha sofrido coimas ou quejandos, mesmo que durante cinco anos seguidos. Apenas que atribuía pouco valor ao fisco e à coleta com que contribuía, embora esta “distração” seja dificilmente compatível com “falta de dinheiro”, já que a factura fiscal lhe saía mais cara. O que custa a engolir não é o incumprimento, mas a desculpa: alegar como desculpa de incumprimento com estas duas explicações não é inocente, tem a elaboração do trabalho de “spin doctors”: a distração é comum nos mortais e a falta de dinheiro pesca compaixão e mostra como ele é igual ao povo. Tudo estaria bem se estas mesmas explicações pudessem estar ao alcance dos restantes cidadãos. Impossível, como o demonstra o assalto aos nossos bolsos se incumprirmos pagamento de portagens.