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Dados pessoais – como estão a ser (ab)usados

Dados pessoais – como estão a ser (ab)usados

A Era Digital é-nos apresentada como uma das mais importantes das recentes inovações. E ninguém duvida das suas imensas potencialidades. Mas, como tudo o que é novo, as suas aplicações podem incluir riscos ainda desconhecidos.

Opinião de:

Uma Língua e Muitos Mundos | O Elogio da Sensibilidade

O muito recente ataque informático a nível mundial que afetou inúmeras empresas europeias, incluindo, por exemplo, o National Health Service inglês, ilustra essa preocupação. Imediatamente, da Assembleia da República, através do seu Centro de Informática recebemos a seguinte mensagem: “não devem ser abertos anexos ou mails de proveniência duvidosa”. 

E desde a eleição de Trump, e do resultado do Brexit, temos ouvido falar muito de como algumas empresas parece estarem a usar dados pessoais de cidadãos para influenciarem resultados eleitorais em vários países.

A pequena empresa Cambridge Analytica, especializada em campanhas eleitorais via internet e praticamente desconhecida até 2016, diz possuir 5.000 dados de cada um de mais de 220 milhões de americanos. Estes dados permitem construir subgrupos de cidadãos que podem ser mais ou menos sensíveis a publicidade política que lhes é especialmente enviada por email ou através das redes sociais. Esta empresa foi alvo de um longo artigo no The Guardian (4 março 2017) sobre a forma como interferiu em várias eleições e referendos. Vários cidadãos estão a contemplar ações judiciais contra a empresa (Le Monde,15 abril 2017).

A estratégia utilizada parece ser simples e fascinante, pela capacidade preditiva demonstrada.  Solicitaram, e obtiveram autorização ao acesso integral das páginas pessoais do facebook de 70.000 “voluntários”.  Aparentemente, analisando os “likes” e através de algoritmos matemáticos especialmente desenhados para o efeito, é possível compreender o perfil psicológico de alguém com um elevadíssimo grau de certeza. Dez “likes” permitem um conhecimento superior ao dos seus colegas de trabalho. Com setenta “likes” esse conhecimento é superior ao de um amigo e com 300 “likes” superior ao do seu conjugue.

Quando falamos em “compreender o perfil psicológico de alguém” estamos a dizer que conseguimos prever aspetos importantes do seu comportamento. E apesar de sabermos que essas previsões não são totalmente certeiras, em casos de indecisão por parte do cidadão, nomeadamente no domínio político, basta alguma informação enviesada para afetar o resultado final. E quando a diferença eleitoral é pequena, por exemplo entre 49% e 51%, estas influências podem ser determinantes.

Dá para pensar e … começar a agir.