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Da comédia europeia à tragédia grega

Da comédia europeia à tragédia grega

Por estes dias, o destino da Grécia - se se mantém ou não na zona Euro e na União Europeia – é totalmente imprevisível. Nos últimos seis meses, particularmente nos últimos dois, assistimos a uma grotesca comédia nas reuniões do Eurogrupo, convocado expressamente para discutir os termos de um acordo com o novo governo grego, que permitisse aos credores disponibilizar a última tranche do segundo resgate.

Opinião de:

Da comédia europeia à tragédia grega

Desde muito cedo ficou claro que o objetivo daquelas reuniões era outro: era obrigar o novo governo grego a comer até à última migalha o pão que a troika amassou durante cinco anos e que tão maus resultados produziram. Atingido este objetivo podiam, então, dizer aos outros povos: não tenham veleidades democráticas porque “não há alternativa”, mesmo que isso implique uma prolongada agonia de um povo, a humilhação de um país e ameace o futuro da Zona Euro e da União Europeia. Com este procedimento, em cada uma destas reuniões do Eurogrupo se foi pregando pregos no caixão de uma Europa democrática e solidária.

Nesta mal encenada comédia europeia, é paradoxal a atitude suicida dos governantes portugueses e do Presidente da República. Portugal é dos países da Zona Euro que mais próximo está das dificuldades que a Grécia atravessa, realidade que a alucinada propaganda do governo não consegue esconder. A taxa de desemprego – sinal evidente da estagnação económica e da ausência de investimento – é das mais elevadas da Europa, atingindo o desemprego jovem os 33%, só ultrapassado pela Grécia e pela Espanha; a dívida pública, a rondar os 130% do PIB, está também no topo da lista dos países europeus, logo a seguir à Grécia e à Itália; a que se junta a emigração de meio milhão de portugueses nestes anos de chumbo. Esta situação portuguesa, agravada pelas inevitáveis consequências que se abaterão sobre toda a Europa, e particularmente sobre Portugal, caso a saída da Grécia da Zona Euro se concretize, aconselharia o primeiro-ministro e o Presidente da República de Portugal a refrear o seu ostensivo contentamento com a tragédia grega. Eles não se importam de representar o papel da direita mais radical da Europa, com um objetivo comezinho e eleitoralista: fazer esquecer estes últimos 4 anos de governação PSD-CDS e repetir a fórmula primária – “não há alternativa”. 

“Se a Grécia cair ficam 18 países” – Disse Cavaco Silva. Amanhã alguém, na Alemanha ou na Noruega, dirá: “Se Portugal cair ficam 17 países”.  É esta a lógica de uma Europa que, por este caminho, se irá aos poucos desmembrar.