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CONVERSAS SOBRE SOARES

CONVERSAS SOBRE SOARES

As Conversas Sobre Soares começaram, hoje, quarta-feira, na sede nacional do PS, no Largo do Rato, prolongando-se até janeiro. Trata-se de uma iniciativa extremamente louvável, porque é sempre justo, e agora também oportuno, evocar a figura e obra do fundador do PS e pai da democracia portuguesa. No passado dia 7, Soares faria 93 anos. A 7 de janeiro, decorre um ano sobre a sua morte. Nasceu e morreu no mesmo dígito. Daí a oportunidade do momento para celebrar Mário Soares, objetivo único do ciclo de conversas.

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As homenagens ao que foi o líder histórico dos socialistas iniciaram-se, no entanto, no dia 8, em almoço na Praia Grande, promovido por Filipe Barroso, com o apoio da JS de Sintra, e com o lançamento de um livro, no dia 5, de Vítor Ramalho, político do inner circle de Soares e grande amigo pessoal, sobre a vida do ex-Presidente da Republica. No dia 6, na Fundação Mário Soares, por ocasião do Prémio EDP, o historiador Pacheco Pereira evocou, também, Soares. 

Em meu entender, é já um lugar-comum dizer que o país lhe deve muito. Os serviços que prestou a Portugal foram tão nobilitantes que vão perdurar para sempre na memória dos portugueses. Ninguém o esquecerá, mesmo os que nem sempre estiveram de acordo com ele. Com o seu inconfundível espírito democrático, Soares citaria, provavelmente, Saint Exupéry: se diverges de mim não me empobreces, enriqueces-me! 

No almoço da Praia Grande, o filho, João Soares, disse que, apesar de ser suspeito, o pai foi, sem dúvida, uma grande figura da história do nosso país. Teve uma vida ímpar, notável, acrescentou. Sobre algumas dificuldades que o pai sentiu na fase terminal da sua existência, João Soares recordou o que De Gaulle disse a Pétin: a velhice é um naufrágio, é para todos! As tentativas que alguns fizeram para conotar Soares com a direita foram liminarmente rejeitadas pelo filho, dizendo que o pai era claramente um homem de esquerda. O próprio feitio, salientou, assim o dizia – audaz e rebelde.  

Na sua intervenção, João Soares sublinhou que o pai prezava muito a frontalidade e que era senhor de uma grande coragem física e intelectual. Falou das 13 vezes que Soares foi preso pela PIDE e da sua deportação para São Tomé. E disse, ainda, que a mãe, Maria Barroso, esteve sempre solidária com o pai. O promotor da homenagem, Filipe Barroso, pôs a ênfase na expressão Soares é fixe, o lema do evento, e, ironizando, afirmou: “diziam que não percebia nada de economia, mas salvou o país duas vezes da bancarrota”. Balsemão, grande amigo do ex-Presidente, enviou uma vídeo mensagem, dada a impossibilidade de estar presente, na qual salientava que Soares “faz falta e que, se fosse vivo, continuaria a ser fixe, porque foi sempre”. As homenagens ao fundador do PS não ficam, porém, por aqui. O pai da nossa democracia é credor da admiração e respeito de todos os portugueses – eis a maior homenagem.   

Como jornalista que sou, com quase meio século de atividade, acompanhei Soares em visitas ao estrangeiro e no país e entrevistei-o, numerosas vezes, para diversos órgãos de comunicação social. Numa deslocação ao Alentejo, quando era primeiro-ministro, uma popular idosa abeirou-se dele, afirmando em tom crítico: ó bochechas não fizeste nada pela gente! Soares seria fulminante e convincente na resposta: fiz, fiz, porque a senhora dantes não podia dizer isso e agora pode! Alçada Baptista confidenciou-me uma vez que Soares merecia a estátua da liberdade! As respostas que me dava nas entrevistas não eram trocadilhos ou soundbytes, como se diz agora. Tinham substância e conteúdo. Em amena conversa, um dia, algures nos anos 80, franqueou-me as portas do PS. Estão sempre abertas para si, disse-me. 

O seu profundo amor a Portugal, o meu país, à liberdade, a capacidade de luta e resistência, e a inteligência política, faziam-me ver nele um político de eleição. Um gigante, mesmo.