home

Contra a fatalidade da Emigração

Contra a fatalidade da Emigração

A emigração portuguesa não pode ser considerada uma fatalidade nem um fenómeno banal. Mas é assim que tem acontecido com o Governo do PSD/CDS, com grande dano para o nosso amor próprio, imagem no exterior e na relação que os residentes no estrangeiro mantêm com Portugal.

Opinião de:

Contra a fatalidade da Emigração

Temos visto vários líderes europeus de países atingidos pela crise pedir desculpa aos seus cidadãos que foram obrigados a emigrar. Em Portugal ainda não ouvimos um pedido de desculpas de Passos Coelho por ter incentivado os portugueses a deixar o país. No período de euforia pró-migratória do Governo, o eurodeputado Paulo Rangel chegou mesmo a sugerir que fosse criada uma agência para facilitar a emigração. Uma afronta!

A brutal emigração dos anos de governação do PSD/CDS, com saídas anuais superiores a 100.000 pessoas, ficará na história como uma ferida aberta, apenas comparável aos piores anos das décadas de 60 e 70, que deixaram igualmente marcas profundas no nosso tecido económico, social e demográfico.

A emigração é sempre o sintoma do fracasso de uma sociedade, que não consegue criar para os seus cidadãos oportunidades de realização pessoal, profissional e académica. É consequência das suas desigualdades, injustiças e falta de apoios. Como se não bastasse o Governo ter incentivado os portugueses a abandoarem o país, ainda por cima desinvestiu brutalmente nas medidas de acompanhamento a nível do atendimento consular, do ensino de português no estrangeiro e nos apoios sociais.

E para estancar a emigração não bastará haver mais crescimento e emprego, o que agora nem sequer é o caso. Os portugueses serão sempre compelidos a sair enquanto não forem criadas oportunidades e condições de vida dignas para todos, enquanto se mantiver a política de baixos salários e condições precárias de trabalho, enquanto o Governo persistir na angustiante asfixia fiscal que tanto prejudica as famílias e condena as empresas à falência ou a canalizar os parcos lucros para compensar as ineficiências do Estado, matando assim quaisquer hipóteses de dinamismo económico.

E é nestes domínios que um futuro Governo do PS tem de trabalhar. Para que os ciclos migratórios não voltem a repetir-se. Sobretudo tem de saber gerir os vários vetores da emigração portuguesa: criar condições para que as pessoas não tenham de emigrar, incentivar o regresso dos que partiram com medidas adequadas, reforçar a ligação com os residentes no estrangeiro, aproveitar o seu valiosíssimo potencial em termos económicos e diplomáticos.

E esta é uma questão de decência da política. Melhor. É uma questão de Estado, preocupar-se com os seus cidadãos, onde quer que eles estejam.