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Compreender

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Opinião de:

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O que mais nos custa é compreender. Normalmente tudo tem uma razão de ser. O atentado de Sarajevo contra o príncipe herdeiro do Império Austro-Húngaro, tinha a ver com o desejo de independência dos Balcãs. O atentado das Torres Gémeas tentou ser uma resposta à agressão de Bush e outros contra o mundo árabe. Os atentados na Turquia, que estes atribuem aos curdos, seus ancestrais inimigos, pode ser apenas o DAESH a tentar abrir à força o estado-tampão, a porta da Ásia para a Europa. Os atentados de Paris uma retaliação contra a aventura de Sarkozy bombardear a Líbia. Certamente não há razões singulares, muito menos racionais. O que se passou hoje em Zaventen e Maalbeck pode ser apenas uma reação ao paciente zelo dos Belgas e Franceses, prestes a descobrirem toda a engrenagem dos atentados de Paris. Ficamos sempre no “talvez”, nos “pode ser que seja”. O que ganha a causa fundamentalista do DAESH com esta violência? Não abre portas, antes as fecha; não cria ideias, antes as destrói; não cria simpatias, apena terror; não muda os equilíbrios mundiais, apenas torna as arestas mais vivas. Sem compreendermos as motivações, teremos sempre dificuldade em preparar a resposta e ainda mais em estudar a prevenção de futuras ações.

Podem as polícias europeias e americanas prender, torturar, ou até aniquilar supostos culpados. Além dos heróis e mártires que fabricam, nada garante que consigamos vislumbrar uma pista, uma visão, uma missão, uma razão. É isto o que nos perturba. Não temos quadros culturais para entendermos esta violência. E não sabendo como criá-los, será inevitável a tendência para a resposta dura, a retaliação, a violência que cairá sobre culpados e inocentes. A impotência intelectual é pior que a impotência policial ou militar. Um inimigo que vive entre nós, se comporta com civilidade, frequenta os nossos cafés, tem família que o acolhe, deve ser bem mais difícil de combater que um guerrilheiro na selva.

E todavia temos que puxar da nossa cabeça (as medidas) e do nosso coração (os valores) que nos ajudem a enfrentar este caos. Não adianta pensar que tudo ocorreu longe de nós, a próxima vez será mais perto. Não adianta admitir que o perigo se esconde atrás dos véus e da densidade étnica. Também os temos entre nós. O único fator que nos defende será a nossa pequenez que cria irrelevância. Mas isso não é um escudo. A proteção tem que ser urdida com tempo, sem fraturas, nem loucuras securitárias e demagógicas. A última coisa que a Europa precisa seria fabricar um Donald Trump europeu.