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Coesão e coerência dos socialistas portugueses foge à regra dos congéneres europeus

Coesão e coerência dos socialistas portugueses foge à regra dos congéneres europeus

A razão por que o PS liderado por António Costa “escapou” às crises de outros partidos socialistas reside no facto de ter “rejeitado” as alianças com a direita, mas também os frentismos de esquerda”, afirmou o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, nas jornadas parlamentares que decorreram ontem e hoje em Bragança.

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Coesão e coerência dos socialistas portugueses foge à regra dos congéneres europeus

Para Ferro Rodrigues, que foi Secretário-geral do Partido Socialista entre 2002 e 2004, tem sido determinante para a pujança e saúde política do PS, ter-se mantido “no centro esquerda e fiel à sua matriz ideológica”, de partido socialista democrático, “europeu e reformista”, evitando assim, como referiu, ter seguido o “mesmo rumo” de outros partidos da mesma família política.

Por essa Europa fora, alertou Ferro Rodrigues, “ao contrário do que por vezes nos querem fazer crer”, a crise que atinge muitos partidos socialistas, não assenta num único padrão, mas em “casos muito distintos”.

Enquanto uns partidos socialistas são “penalizados” por viabilizar “governos de direita e políticas de austeridade”, como sucedeu com os socialistas gregos do PASOK ou dos seus congéneres na Holanda, outros casos há, salientou ainda Ferro Rodrigues, em que os socialistas perderam apoio popular, não por que tivessem seguido este modelo, de alianças à direita, mas “por se terem virado para nichos mais radicais”, como no Reino Unido ou de certo modo também em França.

O segredo e o sucesso da robustez política que o PS liderado por António Costa apresenta, talvez esteja no facto, defendeu Ferro Rodrigues, de “não ter ido por nenhum desses dois caminhos”, ao não ter, por um lado, “viabilizado um programa de Governo que lhe era estranho”, como sucedeu com outros partidos socialistas, sobretudo europeus, nem por ter aderido, por outro lado, a “nenhum frentismo programático geral”.

Mostrando a sua concordância por nesta primeira metade de legislatura o Governo de António Costa ter procurado, em “negociação permanente” no Parlamento, concretizar um programa de “recuperação de rendimentos e de mudança de política económica”, sem pôr em causa, como referiu, “os compromissos internacionais de Portugal”, o presidente da Assembleia da República foi mais longe e lembrou que “aquilo que ao início parecia a maior fragilidade do acordo de Governo à esquerda”, acabou por se revelar “ser a sua maior virtude”, fazendo a “síntese” entre “dois eleitorados essenciais a uma maioria de progresso: as classes trabalhadoras e as classes médias mais dinâmicas”.

Na sua intervenção, Eduardo Ferro Rodrigues lembrou ainda o fundador e primeiro líder dos socialistas, Mário Soares, desaparecido este ano, um “querido camarada”, como o designou, “sempre disponível para dar a cara em todos os combates”.

O presidente da Assembleia da República teve ainda algumas palavras elogiosas para o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao lembrar o seu contributo para a “estabilidade política”, sustentando que à medida que a legislatura avança, o ambiente político e social “vai-se normalizando”, a par do “crescimento da confiança dos portugueses e dos investidores”.

Solidariedade da União Europeia

Noutro registo, Ferro Rodrigues defendeu que é tempo da União Europeia “cumprir” com as suas obrigações com Portugal, agora que se conhecem os resultados macroeconómicos alcançados pelo Executivo português, afirmando que a zona euro tem de “garantir oportunidades a todos e não apenas à Alemanha”.

Para Ferro Rodrigues, o que Portugal espera agora da Europa, depois de ter cumprido a sua parte, é “muito mais, porque precisamos de muito mais”, lembrando que depois do Brexit e depois das ameaças crescentes da extrema-direita “não podemos limitar-nos àquela habitual atitude de quem muda alguma coisa para deixar tudo na mesma”.

A Europa, disse ainda Ferro Rodrigues, não pode continuar a desperdiçar oportunidades de se reformar, nomeadamente, como assinalou, ao nível da moeda única europeia e das políticas de coesão e desenvolvimento, porque corre o risco, como alertou, de um dia os cidadãos “lhe virarem definitivamente as costas”.

“Temos de encontrar um conjunto de novas soluções que sejam sustentáveis e que facilitem a sustentabilidade da dívida e a aposta no investimento”, defendeu.