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BOM TRABALHO, MÁRIO CENTENO

BOM TRABALHO, MÁRIO CENTENO

Não pertenço ao grupo dos primeiros entusiastas da candidatura de Mário Centeno à presidência do Eurogrupo. Não porque lhe não reconhecesse competência e perfil para a função. Pelo contrário. Durante a campanha eleitoral para as legislativas de 4 de outubro, pude verificar que suas as qualidades pessoais e competência técnica já o faziam sobressair dos seus pares. As minhas reservas eram de natureza subjetiva e, reconheço agora, denunciavam uma visão conservadora e egoísta. Se ele estava a fazer um tão excelente trabalho, com bons resultados há muito fora do nosso alcance, “partilhá-lo” era um risco que eu não queria correr.

Opinião de:

BOM TRABALHO, MÁRIO CENTENO

E havia uma segunda ordem de razões. Parecia-me improvável que a direita europeia, a principal responsável pelas políticas austeritárias, votasse num ministro das Finanças de um país do Sul saído de um programa de resgaste e pertencente a um governo socialista apoiado por uma maioria parlamentar de esquerda. Pareciam-me sapos difíceis de engolir. Eleger um ministro, que foi determinante para o virar da página da austeridade e provou que, ao contrário da arrogante asserção there is no alternative do poderoso Wolfgang Schäuble, afinal, havia alternativa, parecia-me uma inimaginável autoflagelação política. Mário Centeno não é um ministro das Finanças qualquer. É o rosto da alternativa bem-sucedida e a voz que defende políticas diferentes no seio do ECOFIN e do Eurogrupo e que havia combatido as posições conservadoras e infelizes do próprio Jeröen Dijsselbloem. 

Pelo que eu conhecia das instituições europeias e tendo em conta a maioria de direita nelas existente, não me parecia nada verosímil a eleição do nosso ministro das Finanças. Enganei-me e fico feliz por me ter enganado. Significa que não só Portugal mudou para melhor, mas que também a Europa está a mudar e que a mudança é positiva. E é óbvio que esta eleição reforça o prestígio internacional que o país tem vindo a granjear nos últimos dois anos, como tem vindo a ser reconhecido pelas próprias agências de rating. A boa imagem externa do governo contribui para aliviar os encargos da dívida pública e baixar os juros das empresas portuguesas. Tudo está ligado.

E há ainda um ponto que tem sido pouco referido e que o Fernando Rocha Andrade sublinhou em artigo no Público. A equipa técnica de apoio à presidência do Eurogrupo é quem prepara a documentação das reuniões. Organiza a agenda, os dossiês e redige as deliberações/conclusões. Sempre foi assim e vai continuar a ser. São equipas tecnicamente muito competentes e especializadas. Mas que não são neutras ideologicamente. Os indevidamente chamados “burocratas de Bruxelas” também têm a sua agenda política. Ora, ter Mário Centeno na presidência do Eurogrupo vai fazer a diferença. Já não é só o Ronaldo do Eurogrupo, é o seu presidente legítimo. Um presidente de reconhecida competência e com capacidade para discutir as opções que os técnicos lhe apresentarem. Não deixando passar por soluções técnicas opções ideológicas. O que, parecendo pouco, tem um enorme alcance. Bom trabalho, Mário Centeno.