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ATÉ QUANDO, TRUMP?

ATÉ QUANDO, TRUMP?

Rimo-nos do candidato. Do que dizia e do que parecia. Não acreditámos que alguém assim pudesse ser eleito presidente dos Estados Unidos. Desvalorizámos o poder da demagogia e do populismo. Perante a evidência dos resultados eleitorais, julgámos que, depois de eleito, ganharia a gravitas inerente à função. E continuamos à espera do milagre da decência. Em vão. Trump não presta.

Opinião de:

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As trumpices do novo inquilino da Casa Branca já dão para um catálogo do que um presidente civilizado e democrático não deve fazer. Ignora o significado de direitos humanos, pratica o nepotismo e nega aos mais desfavorecidos uma vida com dignidade. Trump não presta, mas é o presidente do país mais poderoso do mundo. Tão poderoso que, quando a América espirra, o mundo se constipa. Tão poderoso que as suas opções geoestratégicas podem pôr em causa o equilíbrio mundial. Tão poderoso que as suas decisões podem afetar o futuro de todos nós. 

Trump já ultrapassou várias linhas vermelhas. Choveram críticas e indignação. Ao rasgar o Acordo de Paris, um tratado internacional, assinado pelo seu antecessor, vinculando o seu país, o presidente americano desrespeita os líderes mundiais com os quais os Estados Unidos se comprometeram e fere de morte a credibilidade externa da América. Há normas internacionais de relacionamento entre os povos consideradas invioláveis. Quem as transgride cobre-se de opróbrio.  Trump violou-as, desrespeitando a opinião da comunidade científica e ignorando os relatórios do Pentágono e a opinião da generalidade das companhias americanas do setor energético, incluindo as petrolíferas, que se manifestaram-se contra a saída do Acordo de Paris. 

O Acordo de Paris é o primeiro compromisso sério e universal para reduzir a emissão de gases com efeito de estufa e limitar o aquecimento global do planeta a menos de dois graus centígrados em relação aos níveis pré-industriais.  Depois de anos de negociações, os principais poluidores – China, Estados Unidos, União Europeia, Rússia, Índia, etc. – assumiram finalmente o compromisso de combater as alterações climáticas para evitar os seus efeitos devastadores: elevação do nível do mar (o que aconteceria às ilhas do Hawai, a Nova Orleães e Miami?), secas extremas, inundações e tempestades, falta de água e de alimentos, em suma uma “tragédia humana”.

O Secretário-geral da ONU, António Guterres, guardião do documento original do Acordo (bem como dos restantes tratados internacionais concluídos sob a égide das Nações Unidas), lançou recentemente alguns avisos à administração americana. “É absolutamente essencial que o mundo implemente os acordos de Paris e que essas metas sejam cumpridas com ambição adicional”, afirmou perante uma plateia de estudantes nova-iorquinos. E acrescentou: “se um governo coloca em causa a vontade e a necessidade mundiais quanto ao que respeita a este acordo, é uma razão para todos os outros se unirem ainda mais”. É a vez de a Europa voltar a liderar o processo para substituir o Protocolo de Quioto por um mais ambicioso Acordo de Paris.

Barack Obama, em 2015, após a declaração conjunta com o Presidente da China, Xi Jinping, afirmou que o Acordo de Paris será visto pelas gerações futuras como “o momento em que finalmente decidimos salvar o planeta”. E, legitimamente, acusa agora Trump de “rejeitar o futuro”. Obama queria “salvar o planeta” que Trump quer destruir. A ver vamos o que fica para a história.