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Aprender a fazer Programas Eleitorais? Oh!

Aprender a fazer Programas Eleitorais? Oh!

Os jornais deram a notícia sem que alguém, dos que habitualmente sabem do que se passa, nos dissesse do que se falava. Aparentemente trata-se de uma iniciativa que quer ensinar a fazer programas eleitorais, a medir as políticas e os impactos propostos.

Opinião de:

Aprender a fazer Programas Eleitorais? Oh!

Talvez os autores não se tenham dado conta que esta é uma iniciativa típica dos falcões, que nos chegou dos grupos de pensamento da direita anti-Estado e que já atacou uma parte da esquerda folclórica que nunca foi ao fundo dos questionamentos. 

Há duas palavras, ambas começadas pela letra u, que separam a esquerda da direita, que são fundadoras da sua existência, ainda hoje. Essas palavras são usufruto e utopia. 

A direita olha para o Estado como o sitio onde vai ganhar a percentagem, onde vai criar riqueza privada em desfavor da saúde societal; a esquerda, toda a esquerda venha ela de onde vier, assenta a sua existência na conquista de direitos, na consagração da liberdade em conjunto com a igualdade. 

Ora, nem uma nem outra podem dizer claramente (os eleitores intuem isso desde sempre) ao que vêm sob pena de ficarem pelo caminho. 

A direita, através dos seus núcleos de pensadores, vem, há décadas, propalando a ideia que menos Estado e menos impostos (com contas públicas certas) promove a libertação da sociedade. Por essa via, em tempos de bonança, conquista a classe média, essa entidade que esquece que no dia em que o Estado desaparecer também desaparece a sua proteção.

A esquerda, que quer fazer políticas sociais, proteger os mais fracos, garantir serviços de educação e saúde universais, deve ter o cuidado de ganhar a classe média sem a levar a achar que o peso no seu bolso é excessivo (por isso deve ponderar, sem dogmatismos, as contas certas), uma vez que os capitais globais nos deixam, como sempre deixaram, com os braços cortados perante a fuga. 

Mas o que têm a ver estas considerações com a arte de aprender a fazer programas e a medir os seus impactos? Tem só ligação com o génio que importa colocar na ação política, com as marcas que cada líder e cada tempo querem assumir na História. 

No dia em que a esquerda se limitar a um template, sem criatividade, com a limitação do que, à partida, um conjunto de espertos dizem, também perde a sua irreverência, elimina os grandes objetivos de mudar a sociedade e vence-se no desaparecimento das suas marcas genéticas. 

Eu quero continuar olhar a utopia como marca que me separa da direita, eu que me tenho como um dos mais moderados dos socialistas portugueses.