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Áfricas

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O estabelecimento de um ambiente de plena normalidade diplomática com os países saídos da colonização portuguesa, em especial depois das longas guerras mantidas com três dentre eles, representa um dos aspetos mais positivos do nosso quadro de relações externas em democracia. O posterior estabelecimento da CPLP veio consagrar a plena maturidade desse entendimento, que tem a língua portuguesa como cimento, permitindo desenhar, ao longo da última década, um modelo de cooperação que, não obstante as suas limitações, fez já um caminho interessante e promissor.

Opinião de:

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Não tem sentido tentar esconder, por detrás de um qualquer discurso congratulatório, a subsistência de naturais diferenças, na abordagem de certas temáticas, nomeadamente as que se prendem com questões de democracia, de Direitos humanos e do funcionamento do Estado de direito. Se algum exemplo mais concreto fosse necessário, aí estaria o recente caso do acesso da Guiné-Equatorial à CPLP como prova de que nem sempre as perspetivas coincidem. Mas isso faz parte da natureza de Estados que nascem e evoluem em contextos diferentes, com histórias e processos internos muito díspares. A sabedoria de uma diplomacia madura reside, precisamente, na capacidade de sublinhar os fatores de identidade e de potencial aproximação, não deixando que a magnificação das diferenças prejudique aquilo que é essencial.

Ao longo das quatro décadas que passaram desde a independência das colónias africanas, não raramente o, também variado, olhar de Lisboa divergiu do dos governos desses novos Estados, quer na avaliação dos esforços para a sua reconciliação interna, quer no modo como alguns valores comummente aceites pela comunidade internacional, em matéria político-institucional, neles mereceram observância. Curiosamente, e em tempo mais recente, vimos também emergirem, da parte desses Estados, críticas a determinados aspetos do sistema institucional português. 

Às vezes, o tom de algumas dessas apreciações ultrapassa o razoável, roça a ingerência, pode ser lido como desrespeitoso das ordens jurídico-políticas. A linha é muito fina entre aquilo que pode configurar uma legítima observação sobre certas disfunções dos sistemas e um tom crítico que pressupõe a não aceitação dos fundamento da ordem de valores em que eles se apoiam.

Compete aos agentes políticos manter a serenidade e ver um pouco para além da espuma polémica de alguns dias, de algumas vozes mais excitadas e de alguns títulos de jornais. Cabe às diplomacias, sob a sua orientação, preservar e desenvolver o tecido comum de relações e olhar para ele na perspectiva da História e dos interesses comuns de que se alimenta.