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Afinal, de que êxito se reclama o Governo?

Afinal, de que êxito se reclama o Governo?

As reformas do Governo não são currículo estimável, pelo menos as que inseriu na página eletrónica do seu portal. Primeiro, porque alterações pontuais não são reformas e sim manta de retalhos; depois porque no cardápio não há uma única referência às questões sociais e à vida concreta das pessoas e das famílias.

Opinião de:

Afinal, de que êxito se reclama o Governo?

Em matéria fiscal, no IRS, o que temos é um aumento da captura dos rendimentos do trabalho e talvez por isso seja esquecido, no “colossal aumento de impostos”, o IVA a 23%, nomeadamente para a restauração. Sobre o insustentável disparo no IMI abate-se o silêncio e também não conseguimos ler uma única medida dirigida à economia nas regiões de baixa densidade que contavam no passado com um IRC a 15%. Pelo contrário!

O mercado laboral carateriza-se por uma precariedade sem precedentes, a mais elevada da Europa, e reclamar qualquer êxito nesta matéria é ignorar a elevada taxa de desemprego, bem como a destruição de 445 mil postos de trabalho. Outro êxito?

Em matéria de trabalho e transparência o pior exemplo é o que veio dos falaciosos concursos na Administração Pública em que os júris nunca decidem até ao fim e aos quais a CRESAP fecha piedosamente os olhos. E nem vou abordar os jovens técnicos “especialistas” que saltaram diretamente dos bancos da escola para os gabinetes com rendimentos a ultrapassarem os 5 mil euros mês, nem as quase 6 mil nomeações até dezembro de 2014.

Na lista do Governo a Saúde é reduzida à política do medicamento, mas não refere o drama dos que morreram por lhes ter sido negado aquele que tratava a Hepatite C (conquistado a pulso pela pressão da opinião pública), como não fala de uma única conclusão dos muitos inquéritos e investigações aos que morreram nas urgências por falta de assistência, nem de uma boa explicação para a descapitalização do SNS em favor dos privados ou tão pouco da sempre prometida e adiada reforma hospitalar.

Refere o Governo uma boa gestão das finanças públicas, apesar de o resultado final ter sido o aumento da dívida de 94 para 130% do PIB, sem que o país tenha beneficiado de qualquer investimento e a único “progresso” estar assente na promessa de corte definitivo das pensões em 600 M€. De facto, matar à fome reduz a despesa com a alimentação!

O Portugal 2020 só está a “1010”, tal é o atraso na definição das prioridades, candidaturas e disponibilização do dinheiro vivo que faz mover a economia. Acresce uma enorme rarefação dos serviços públicos e a dificuldade de acesso dos cidadãos, nomeadamente à Justiça, área em que, em democracia, se produziu o maior desnorte e confusão cuja dimensão de desastre só encontra paralelo na Educação. Nada se economizou, tal como aconteceu na liquidação indiscriminada de freguesias. Afinal, cabe perguntar, de que êxito se reclama o Governo?

Nota: “As reformas enumeradas no portal do governo são nas seguintes áreas: IRS, arrendamento, IRC, mapa judiciário, mercado laboral, fraude fiscal, hospitalar, medicamento, licenciamento, Administração Pública, fiscalidade verde, administração local, ensino profissional, setor empresarial do Estado, gestão das finanças públicas, descentralização, serviços de atendimento da administração desconcentrada, Portugal 2020 e Forças Armadas.”