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2015 – O ano do PS

2015 – O ano do PS

Não se trata de ir ao calendário asteca, à numerologia pitagórica ou à matemática sagrada decifrar enigmas esquecidos ou desvendar chaves ocultas. Nem de dar à vontade um fatalismo que a dispense ou de substituir a realidade por uma magia que a favoreça. Trata-se de mencionar uma verdade vulgar e visível: aqui, como na lotaria, os números bons são aqueles com que ganhamos. Esta é a verificação: na história do PS, os anos terminados em 5 têm sido de grandes acontecimentos, mudanças, definições ou vitórias.

Opinião de:

2015 - O ano do PS

1975 foi para o PS, com as eleições para a Assembleia Constituinte ( 25 de Abril), o ano da primeira vitória, da sua revelação como principal força política da democracia portuguesa e como partido fundamental da Internacional Socialista. Foi esse também o ano da luta e da vitória memorável do PS sobre aqueles que queriam forçar a Revolução a dizer um inaceitável “não” à democracia pluralista ( “ Os socialistas portugueses provaram ao mundo – e pela primeira vez na história – que os mencheviques também eram capazes de vencer os bolcheviques”, afirmou então André Malraux).

1985 foi o ano da assinatura histórica, por Mário Soares, do Tratado de Adesão de Portugal à CEE ( 12 de Junho). E foi ainda o ano em que, partindo de uma derrota do PS nas eleições legislativas e de um número de intenções de voto que, nas sondagens, aparecia abaixo de todos os outros, a candidatura de Soares a Presidente da República foi crescendo em vigor político, energia cultural e mobilização social, levando à eleição, no início de 1986, do primeiro Presidente civil, desde o fim da I República.

1995 foi, com António Guterres, o ano da vitória do PS nas eleições legislativas, pondo fim a uma longa década dominada pelos governos do PSD de Cavaco Silva e a sua hegemonia asfixiante. Foi esse também o ano de afirmação da candidatura presidencial de Jorge Sampaio, com a sua eleição, logo em Janeiro de 1996.

Em 2005, após dois insólitos governos do PSD/ CDS, com Paulo Portas a secundar Durão Barroso e depois Pedro Santana Lopes, o PS, com José Sócrates, conseguiu a primeira maioria absoluta em eleições para a Assembleia da República.

Estamos agora em 2015. Os olhos dos portugueses viram-se para o PS e para António Costa. Olham-nos, para que se acabem os quatro anos de violência e virulência, de voracidade e vertigem, que temos vivido e que nos humilham, envilecem e indignam como europeus, portugueses, cidadãos, homens e mulheres, simplesmente. Estes têm sido os anos em que tudo se tornou o seu pior: a política, a economia, a sociedade, o país, a Europa, o mundo. E a vida!

2015 é o ano em que o PS tem de sondar os silêncios, escolher as palavras, denunciar os problemas, imaginar as soluções, responder às perguntas, aproximar os distantes, convencer os desconfiados, alertar os distraídos, atrair os descontentes. E antever as ciladas, desactivar as armadilhas, prevenir as imprudências, antecipar os ataques. É o ano em que dizer PS e dizer Costa terá de querer dizer muitas palavras começadas por c: confiança, convicção, consciência, credibilidade, clareza, coerência, competência, consistência, consequência.

2015 é, terá de ser, o ano de uma grande vitória do PS – mas com a certeza lucidamente responsável de que essa vitória inicia um tempo dos mais indecifráveis, dos mais imprevisíveis, dos mais sobressaltados, dos mais sitiados da história recente. Esse terá de ser o tempo de corrigir desmandos, emendar erros, reparar injustiças, cortar nós, garantir direitos, respeitar leis, reconstruir a democracia. E também de encontrar um novo olhar e um novo modo de fazer política, um novo pensamento e um novo modelo de desenvolvimento económico, um novo compromisso, uma nova concertação e um novo contrato social, um novo sentido para o país e um novo sentimento de país, uma nova atitude europeia e uma nova definição de Europa. Este terá de ser o tempo de um recomeço – mas de um recomeço que, logo a seguir, não desiluda, não desdiga, não defraude, não desista. E que não se desminta, não se desfigure, não se desnorteie, não se desculpe, não se decomponha. Este é, terá de ser, o tempo de um novo início que dê uma confirmação ao que fizemos no passado, uma razão ao que fazemos no presente e um fundamento ao que faremos no futuro.

E lembremo-nos que 2015 é também o ano em que se comemoram os 50 anos da morte de Winston Churchill e os 70 da sua parte decisiva na vitória das democracias na II Guerra Mundial. Para a conseguir, Churchill aproximou a política do mais vivo e do mais vigoroso da vida, fazendo dela uma sábia combinação de coragem e insubmissão, de rebelião e astúcia, de independência e lucidez, de gravidade e humor, de solidão e ousadia, de decisão e rasgo, de sangue frio e ímpeto E fez dela ainda uma parrésia, um falar verdadeiro, franco e claro. Às vezes, forte e feroz.

Churchill sabia que, sem isso, a política é apenas a contrafacção de um sonho fútil, o fantasma de um fulgor fugaz, a leviandade de uma fama fácil, ou o fim de um fervor falhado. Por isso, preveniu, advertiu, avisou contra aqueles tempos de desastre em que “ a força dos piores se fortalece com a fraqueza dos melhores”.